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Maysa Rocha

Um romance psicológico brasileiro: Os ratos, de Dyonélio Machado

O texto do blog de hoje fala sobre um livro chamado “Os ratos” de Dyonélio Machado, que é uma das leituras obrigatórias do vestibular da Fuvest de 2025. Vamos ver um pouco mais sobre a pequena epopeia de Naziazeno Barbosa em busca de dinheiro para a sua sobrevivência e de sua família e sobre o autor.



Dyonélio Machado 

Dyonélio Tubino Machado (1895-1985) foi um romancista, contista, ensaísta e psiquiatra nascido em Quaraí, Rio Grande do Sul. Órfão de pai, trabalhou desde jovem para se sustentar, mudou-se para Porto Alegre em 1912, onde concluiu o Ensino Médio. Com dificuldades financeiras, retornou à Quaraí, onde dirigiu o jornal da cidade e lecionou em uma escola pública. Em 1921, voltou para Porto Alegre, fundou o jornal A Informação e ingressou na Faculdade de Medicina.

Sua estreia literária aconteceu em 1927, com o livro de contos Um Pobre Homem. Em 1934, escreveu o romance Os Ratos, sua considerada obra-prima, que lhe rendeu reconhecimento nacional. Após quase 20 anos afastado de sua vida literária, retomou a carreira em 1966 com a reedição de Os Ratos e continuou publicando até sua morte.


Os ratos

Escrito em 1935, este livro faz parte da segunda fase do Modernismo Brasileiro (fase de consolidação), que ocorreu entre 1930 e 1945. A luta pela sobrevivência em uma sociedade tomada pela escassez eram temas recorrentes nessa fase da escola literária.

E é nesse cenário que Dyonélio Machado faz uma crítica à sociedade da época, em um romance regional, cujo personagem principal, Naziazeno precisa pagar uma dívida de 53 mil para o leiteiro, pois caso contrário, ele ficaria sem seus galões de leite. Durante sua tentativa de levantar capital, ele acaba fazendo mais dívidas ao pegar empréstimos de amigos e agiotas, levando o personagem a uma série de angústias muito bem descritas.

O livro todo se passa em 24 horas, nas quais o protagonista recorre a banqueiros, ao chefe e até às pessoas que passavam pela rua. Desorientado, ele acaba perdendo o pouco dinheiro que tinha almoçando com colegas de jogo. Quando se deita para dormir, seus sonhos refletem seu maior pesadelo: ratos roendo o dinheiro que ele usaria para pagar o leiteiro. 

A narrativa é o reflexo de um personagem em crise: na aflição latente para se livrar das dívidas, o Naziazeno, acaba se afundando mais em sua busca pela sobrevivência. Vale ressaltar que em 1935, o Brasil passava pela Era Vargas, logo após a oficialização da nova constituição. Vemos também, um livro que é narrado em terceira pessoa, mas com o narrador “colado” no personagem, pois acompanhamos suas angústias e aflições como se estivéssemos do seu lado pelas ruas de Porto Alegre. 

Durante sua caminhada, Naziazeno consegue o dinheiro que devia para o leiteiro, porém agora, precisava pagar as pessoas com quem pegou dinheiro emprestado. Esses eventos fazem com que ele questione sua existência. Os ratos surgem no final do livro, quando Naziazeno deixa o dinheiro para pagar o leiteiro em cima da mesa da cozinha e começa a ter alucinações de que os animais estão roendo as notas que ele usaria para pagar o leiteiro. 


Em entrevista ao Jornal USP, Augusto Massi, professor de literatura brasileira na FFLCH USP disse: “Penso que é uma obra difícil de classificar segundo as categorias correntes. O livro transita entre o que há de melhor na composição de corte psicológico, no estudo de matriz realista e social, na prosa urbana e de vanguarda”, afirma. E continua: “sua configuração estilística é complexa, tensionada, fronteiriça, podendo sondar tanto os conflitos da subjetividade individual quanto revelar estruturas opressivas das relações coletivas”. 



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