No texto de hoje, a poeta Dayan Marchini, estudante de Letras e autora do livro "Poesie-se", integrante da equipe da biblioteca no período da tarde, nos brinda com uma seleção de livros de diversos poetas, que assim como ela, são embalados pelo lirismo e pelo amor às letras. Ela nos fala do corpo e da alma dos poemas e do quanto a poesia anda pulsante para além da literatura.
Quem nunca teve dúvida sobre qual termologia usar, que atire a primeira pedra. Para evitar que você saia por aí atirando pedras, aqui vai uma ajudinha para lembrar o que aprendemos na escola. Apesar de usadas como sinônimo, muitas vezes, poema e poesia têm significados diferentes. O poema nada mais é do que o gênero literário, assim como a crônica, o romance, o conto, o terror, ou seja, é o texto em si. Já a poesia, tem origem do grego poiésis, significa “criar”, “produzir”, bem como o fazer artístico. Poema é corpo, poesia é alma.
Logo, a poesia está presente não só em um poema, mas também em qualquer manifestação de arte, pois trata-se do sentimento, do lirismo, da emoção transmitida, captada e ressignificada. A poesia está na música, na dança, no teatro, no cinema e até mesmo em nosso cotidiano, quando o simples se torna belo ou significativo poeticamente.
Atualmente, a poesia mostra-se pulsante como nunca, por meio de inúmeras representações de arte contemporânea, como podemos observar no que vem sendo produzido pelo Rap (ritmo e poesia) no século XXI. A mescla de signos eruditos e populares em versos que cantam a realidade de nossos dias líquidos, possibilita expandir o horizonte dos mais jovens e aproximá-los de uma poética rica de significados, questionamentos e críticas sociais.
Nesse contexto, alguns nomes se destacam, como: Criolo, Rincon Sapiência e Baco Exu do Blues. No trecho da letra de Duas de Cinco, do rapper Criolo, que segue, temos, por exemplo, referências à História da Loucura, de Michel Foucault, a Eric Hobsbawm, a Maquiavel, mas também alusões às drogas e à hipocrisia dos indivíduos.
“Alô, Foucault, cê quer saber o que é loucura?
É ver Hobsbawm na mão dos boy, Maquiavel nessa leitura
Falar pra um favelado que a vida não é dura
E achar que teu doze de condomínio não carrega a mesma culpa
É salto alto, MD, Absolut, suco de fruta
Mas nem todo mundo é feliz nessa fé absoluta”
Assim como o Rap, os movimentos de Slam têm mostrado a poesia por um outro ângulo. Abordando questões importantes para a sociedade de maneira informal e direta, os Slammers (como são chamados os poetas que trabalham com esta vertente) alcançam cada vez mais espaços e possibilitam a proximidade do público com seu contexto e sua luta por causas que passam invisíveis aos olhos do mundo.
A arte visual também se mostra cada vez mais independente de museus e formalidades, passeando dos zines ao grafite, do belo à crítica, da observação à interação, possibilitando a abertura de diversas interpretações, ao invés de um modelo padrão de pensamento sobre o que o autor ou autora quis dizer. Não há limites para a arte e é isso que a torna única e plural.
Deixo, então, indicações de alguns livros indispensáveis para o repertório de leitura de poemas, que vão desde os mais clássicos aos contemporâneos, incluindo autores que estão produzindo em nossa atualidade. Sugiro também que façam um passeio pela obra dos Raps que citamos acima. Boa leitura!
“Memórias Inventadas: As infâncias de Manoel de Barros” - Manoel de Barros
Um livro leve, que decorre de maneira singular pela temática da infância de um jeito que apenas Manoel conseguiria escrever: tornar o simples, algo incrivelmente mágico.
“Chão de Vento” - Flora Figueiredo
Uma leitura que é como brisa para o rosto. Flora conduz sua poesia de maneira rítmica e delicada, muitas vezes, nos fazendo sentir uma nostalgia singela daquilo que já não está mais perto de nós.
“Primeiros Cantos” - Gonçalves Dias
Consagrado por seu poema “Canção de Exílio”, em “Primeiros Cantos” o autor nos permite um lirismo doce e espontâneo que expressa todo seu sentimentalismo romântico.
“Toda Poesia” - Paulo Leminski
Poeta do movimento “Marginal” que marcou o modernismo com seus haikais e sua forma livre de versar com poucas palavras, além de poemas visuais. Em “Toda Poesia” é possível encontrar toda sua versatilidade poética.
“ABC de Fernando Pessoa” - Fernando Pessoa
Embora não seja recheado de poemas, mas de trechos dos versos de Pessoa, a obra traz muita poesia, além de ser ótima para quem tem interesse em iniciar no mundo do autor. Um livro visceral e encantador.
“Melhores Poemas” - Cora Coralina
Cora se destaca por sua simplicidade e forma livre de fazer poesia. Seus versos, nessa e em diversas obras, nos conduzem para sua realidade como a tomar pela mão e fazer doces, tal doceira que a poeta também era.
“A Rua dos Cataventos” - Mário Quintana
O primeiro livro do autor, composto por 35 sonetos, antecede suas produções mais contemporâneas na maneira de escrever. Aborda questões da infância, vida e morte, usando de elementos da natureza e de nosso cotidiano.
“Antologia Poética” - Cecília Meireles
Com versos que ressoam como música, Cecília toca no profundo de nós com a gentileza de uma mãe. É como se fossemos embalados por uma cantiga que nina, mas também acorda para os detalhes.
“A Utilidade do Rascunho” - Tadeu Rodrigues
O primeiro livro de poemas do escritor e advogado mineiro revela uma poesia cheia de influências, mas extremamente única. Tadeu consegue ser um soco no estômago e um sopro ao mesmo tempo. Sua literatura pode ser encontrada no Instagram, na página que leva o nome do autor.
“Tudo Nela Brilha e Queima”- Ryane Leão
Assim como Tadeu, Ryane também é uma representante da literatura atual. Em sua poesia a autora fala sobre amor, desapego, rotina, recomeços, sonhos e desafios, além de tudo que nos faz humanos. É possível encontrar seu trabalho no Instagram @ondejazzmeucoração.
“Sentimento do Mundo” - Carlos Drummond de Andrade
Escrito diante do cenário da Segunda Guerra Mundial, Drummond revela angústias e fragilidades humanas em uma poesia que atravessa o tangível. Com uma linguagem precisa e áspera, o poeta grita sua inquietude em versos como os do poema “Os ombros suportam o mundo”, onde finaliza dizendo: “Chegou um tempo em que não adianta morrer. Chegou um tempo em que a vida é uma ordem. A vida apenas, sem mistificação”.
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