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Marina Colasanti: “Loucura é acreditar-se são.”

  • Maysa Rocha
  • 5 de fev.
  • 4 min de leitura

Dia 28 de Janeiro nos despedimos de Marina Colasanti, escritora, contista, jornalista, tradutora e artista plástica, ela deixou marcas na nossa cultura, com seus livros que falam sobre a força feminina e o poder da escrita. Veja hoje no blog, suas obras mais conhecidas, seus prêmios, vida e suas contribuições para a literatura. 


Marina Colasanti 

Em 1937, nasceu Marina Colasanti, na cidade de Asmara, capital da Eritreia, na África Central. Desde pequena conheceu o mundo de um jeito intenso: mudou-se para Trípoli, depois para a Itália e, em 1948, veio com a família para o Brasil. Aqui fincou raízes e fez do Rio de Janeiro, sua casa. Casou-se com o escritor Affonso Romano de Sant'Anna e é mãe de Fabiana e Alessandra Colasanti.

Apesar de ser formada em artes plásticas, a palavra sempre teve um lugar especial na sua vida. Começou como jornalista no Jornal do Brasil, trabalhou na TV com programas culturais, passou pela publicidade e traduziu grandes obras da literatura mundial. Mas foi nos livros que se encontrou de verdade.

Marina coleciona prêmios ao longo da carreira: Jabuti, APCA, Biblioteca Nacional e vários reconhecimentos internacionais. Foi tantas vezes premiada pela FNLIJ que recebeu o título de hors-concours, uma forma de dizer que seu talento já dispensa comprovação. 

Mas nada disso a afastou dos leitores. Pelo contrário. Quem acompanhou sua trajetória sabe que ela estava sempre por perto, participando de feiras, congressos e eventos literários. Sua paixão pela literatura foi pulsante até o fim de sua vida, e suas histórias seguem encantando e provocando reflexões – porque boas histórias nunca perdem a força.


"Os seres humanos precisam narrar. Não para se distrair, não como uma forma lúdica de relacionamento, mas para alimentar e estruturar o espírito, assim como a comida alimenta e estrutura o corpo."




Uma das vozes femininas mais importantes de toda uma geração:

Seu primeiro livro “Eu, sozinha” foi lançado em 1998 e se tornou um dos mais populares da sua coleção. Sua obra conta com mais de 70 títulos públicos no Brasil e no exterior. 

Entre os temas que abordava estava o protagonismo feminino, questões sociais, o amor e a arte. Marina escreveu poesias, contos, crônicas, literatura infantil e infanto-juvenil. Ela foi a décima mulher a conquistar o tão sonhado prêmio Machado de Assis, concedido pela Academia Brasileira de Letras (ABL). Por ser artista plástica de formação, Marina também foi ilustradora de alguns de seus livros.

Marina Colasanti deixou sua marca na literatura com uma escrita que transitava entre poesia, crônica e literatura infantil. Em 1994, foi premiada com o Jabuti de Poesia por Rota de Colisão (1993) e também na categoria Infantil ou Juvenil por “Ana Z Aonde Vai Você?”. Anos depois, em 2013, ganhou seu oitavo Jabuti com “Breve história de um pequeno amor", publicado pela Editora FTD.

Seu talento rendeu-lhe importantes reconhecimentos, como a Ordem da Estrela da Solidariedade Italiana (2005), o Prêmio Literário da Fundação Biblioteca Nacional (2009) e o Prêmio Iberoamericano SM de Literatura Infantil e Juvenil (2017). Mesmo depois de tantos anos de carreira, nunca deixou de escrever, de compartilhar histórias e de se envolver com o universo literário. Seu amor pelas palavras a acompanhou até o fim, e um de seus últimos reconhecimentos foi a homenagem recebida na II Flinf; e ao lado de seu marido, Affonso Romano de Sant’Anna, viveu uma vida inteira dedicada à literatura.


“Abro a porta do armário, como abro um diário, a minha vida ali dependurada.”




A moça tecelã

A personagem sem nome de Colasanti, é uma mulher que através de seus bordados, ou seja, de sua veia criativa, ela cria tudo que deseja, ela faz seu mundo de acordo com seus desejos. É uma metáfora para mostrar como podemos ser responsáveis pelo nosso mundo e nossas vontades. 

Ao perceber sua solidão, a moça tece um parceiro para si, que a primeiro momento se mostra amoroso e companheiro, porém com o tempo ele começa a exigir uma dedicação além de suas forças. 

Podemos interpretar como a moça sendo uma esposa que se doa demais ao parceiro, que se esquece de seus próprios desejos, o parceiro começa a fazer ela trabalhar mais que o habitual, fazendo com que ela tece, por exemplo, um castelo com quinze quartos, isso faz com que a personagem perca o desejo de tecer e começa a fazê-lo por obrigação. Em um momento, o parceiro da moça tecelã decide trancá-la na torre maia alta do castelo onde eles moravam, o leitor pode interpretar a torre como sendo simbólica, existem muitas maneiras de bloquear a liberdade de uma mulher. 

No final do livro vemos uma melhor que se dá conta da sua própria situação de prisão e que decide fazer algo a respeito, durante a noite, a moça tecelã começa a desfazer os nós que moldavam seu parceiro, se desconectando dele de uma vez por toda. A moça reencontra sua liberdade e seu lar interno, voltando a criar pela sua criatividade genuína.   



“O silêncio da casa é feito dos barulhos de fora. Se tudo em volta se calasse, minha respiração seria ensurdecedora.” - Livro “Eu, sozinha” (1968).


Para saber sobre as obras dessa que foi uma das autoras mais premiadas do Brasil, leia o livro “Disponibilidade da alma", livro que celebra os 50 anos de carreira literária de Marina. A obra contempla seus contos, microcontos, crônicas, poemas, memórias, ensaios e entrevistas. 





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