A contribuição de Monteiro Lobato para a literatura infantil brasileira é inegável! Autor do clássico Sítio do Pica-pau amarelo, Lobato marcou gerações com as histórias de Narizinho, Pedrinho e Emília no sítio de sua avó Dona Benta. Mas Lobato influenciou muitos autores a escreverem livros para o público infantil e destes, selecionamos alguns dos muitos autores que estão distribuídos pelo Brasil inteiro. E que fique claro, hoje só trouxemos literatura brasileira de qualidade e de todos os cantos do país, para homenagear uma parte da nossa cultura, tradição e arte de escrever para crianças.
Bartolomeu Campos de Queirós - Os cinco sentidos
Quem disse que os cinco sentidos servem apenas para ver, ouvir, sentir e tocar, nunca leu este livro de Bartolomeu Campos de Queirós. Fugindo da concepção científica, Bartolomeu toma os sentidos além da sua serventia biológica e vai desconstruindo, através de uma prosa poética muito delicada e gostosa de se ler, como os sentidos são e para que são. Ver não é apenas para olhar, mas é para sentir também. Porque olhar também dói. E ouvir? Também ouvimos o silêncio e nele vivem barulhos. Os aromas, tão conhecidos ao nariz, remetem às lembranças de uma vida passada, assim como o paladar, tão ligados e tão conectados às memórias. O toque, o último sentido, que conecta a pele às percepções do sentir.
Os cinco sentidos também são feitos de experiência e de memória são conectados a uma única raiz, pelo corpo todo e o livro se encerra com a frase que conecta toda a obra, “em cada sentido moram outros sentidos”.
Blandina Franco e José Carlos Lollo - Soltei o pum na escola
Conhecidos pela coleção do Pum, a contribuição de Blandina e Lollo para a literatura infantil brasileira é notável. A indicação de livro desses autores não poderia ser outra que não a do Pum, Em “Soltei o pum na escola!” o pum e seu dono acabam causando um desconforto tremendamente gigante.
Acontece que estes livros escritos por Blandina e ilustrados pelo Lollo não podem ser lidos sem o apoio das ilustrações. Caso o leitor o faça, a história ficará apenas com um sentido: e é aí que está toda a graça da leitura, descobrir que na verdade, o personagem principal do livro não é o que ele pensa.
Eva Furnari - Cocô de Passarinho
Este fascinante livro de Eva Furnari, além de muito engraçado, tem ilustrações geniais. Os moradores de uma cidadezinha pequena nunca tinham muito assunto para conversar e sempre ficavam no mesmo papo: “que calor, os negócios vão mal, ano que vem vai ser pior.” E o que mais os incomodava eram os passarinhos que faziam cocô em suas cabeças. Para resolver esse problema escatológico, começaram a usar chapéus, mas os passarinhos continuam a seguir com suas rotinas intestinais. Até que, por descuido de um vendedor de sementes, os pássaros se alimentam das mesmas e começam a distribuir sementes pelos chapéus dos moradores e um jardim de acessórios surge na cidade!
A conversa dos moradores toma outro rumo: a beleza das flores e dos passarinhos empresta cores à vida daquelas pessoas e, dominados pela natureza ganhando vida, os habitantes da cidade despertam do desinteresse cotidiano para os presentes que a vida os oferece.
Ziraldo - Lúcio e os livros
Ziraldo é bastante conhecido por suas ilustrações e nesta história, em quadrinhos, assim que batemos o olho, percebemos o traço tão característico do autor. Neste livro, Lúcio é o protagonista e ele ama livros e todas as histórias que estão distribuídas ao longo da história, o livro aparece junto de Lúcio. Entre as histórias, temos uma sessão que se chama “As páginas marcadas do Lúcio”. Nesta parte do livro, a história do objeto livro é contada, através de quadrinhos explicativos sobre a invenção da escrita, a invenção do livro, desde o papiro até a imprensa de Gutemberg, o processo de edição de um livro em uma editora e os principais autores de livros mundialmente conhecidos, como Perrault, Lewis Carroll, Alexandre Dumas e Monteiro Lobato, claro. As últimas sessões de “As páginas marcadas do Lúcio” contam um pouco sobre os gêneros literários e a organização das bibliotecas! Um deleite para os leitores mais aficionados.
Ana Maria Machado - O olhar passeia
Conhecemos Ana Maria Machado por suas diversas histórias infantis. A mais conhecida, “Menina bonita do laço de fita”, foi lida e relida por gerações, mas as poesias de Ana Maria são tão memoráveis quanto sua prosa. Como no título do livro, a autora passeia com os olhos por diversas instâncias da nossa vida: os mistérios do mar, o beija-flor e o colibri e as construções da natureza. Um livro que tem movimento, assim como as ondas da maré. As ilustrações ficam por conta de Claudia Furnari, filha de outra ilustradora famosíssima que apareceu por aqui.
Pedro Bandeira - É proibido miar
Pedro Bandeira é um clássico da literatura infantil brasileira e não poderia ficar fora dessa seleção. Este livro, que poderia facilmente passar despercebido na estante de livros, frente a outros mais grossos, é uma história muito interessante sobre um cachorro, Bingo, o mais novo da ninhada que, diferente dos irmãos e dos pais, aprende a miar, ao invés de latir.
Acontece que Bingo ficou fascinado com o gato que mora no telhado da casa de seus donos, com a sua liberdade e desenvoltura gatuna pelas noites afora e por que ele, apenas por ser cachorro, não poderia ser dessa forma também?
Infelizmente, isso não é aceito pelos demais. Um cão que mia está fora de cogitação para os familiares de Bingo e o pobre coitado é enviado ao canil municipal e lá, ele também não é aceito pelos outros cachorros. Pedro Bandeira, ao final do livro, explica o motivo desta história: “é um protesto contra todas as proibições, contra todas as imposições que nos mandam gostar disto e não gostar daquilo” .
Roseana Murray - Jardins
O que encontramos em um jardim? No jardim de Roseana Murray, além de flores, encontramos poesia! Com cores e ilustrações lindíssimas feitas pelo artista Roger Mello, Roseana conta, através de poemas que conversam com os desenhos da obra, as imensidões de belezas que um jardim cheio de vida pode oferecer.
Guirlandas de palavras e flores embelezam as páginas deste livro tão simples, mas encantadoramente rico e como a autora mesma diz, em um verso “Flores alimentam sonhos, dão de comer aos olhos, arrumam e desarrumam formas e cores” este livro é para apreciar em cada detalhe, desde as páginas coloridas e vibrantes, até os detalhes do acabamento da capa, com lacinho para fechar o volume e tudo. Na quarta capa do livro, encerramos essa experiência com uma carta de Manoel de Barros, para a autora, datada de 31 de agosto de 2001, em que poetas conversam sobre as coisas sensíveis da natureza.
Stela Barbieri e Fernando Vilela - Como surgiram os vaga-lumes
Outra dupla de autores que sozinhos são incríveis e juntos então, roubam a cena! Stela Barbieri gosta muito de contar histórias e não importa se são com letras e palavras ou através de materiais artísticos. Junto de outro artista, o Fernando, eles contam muitas histórias e “Como surgiram os vaga-lumes” é uma delas. Nesta obra, uma estrelinha do céu cai estatelada na terra, depois de muitos avisos de sua mãe que dizia que era perigoso brincar entre as nuvens fofas.
Mesmo depois das tentativas da mãe-estrela, para socorrer a filha, nada se resolveu. Até que os animais, atraídos pelo brilho intenso, vão até o local e decidem ajudá-la a voltar para o céu. Primeiro o elefante, depois a girafa, um porco-espinho, um touro e um jacaré tentaram arduamente lançar a estrelinha para o céu, mas nada que eles fizessem resolvia a situação da menina-estrela. Até que, por fim, ela se depara com algumas moscas e, depois de zunirem e conversarem, decidiram carregar a estrela de volta para o céu.
Ao final, para voltarem para a floresta, as mosquinhas receberam um presente da estrela-mãe para enxergarem na imensa escuridão
Carolina Moreyra e Odilon Moraes - Entrevistas
Quem nunca ficou interessado em conversar com um personagem de um livro que gostou muito? Tomar um café, saber dos pormenores das histórias e perguntar o porquê das coisas acontecerem de determinada forma… Bom, Carolina Moreyra juntou todas as suas perguntas e, através de um entrevistador imaginário, começou uma prosa com os personagens mais famosos da literatura infantil: A bruxa, de João e Maria, A vovozinha, Rapunzel, Os três porquinhos, Bela Adormecida, Lobo Mau e outros sentam-se de frente para o microfone para responder a questões como a Rapunzel cuida daquele cabelão todo.
Quase um podcast da vida real ou talk show com personagens dos contos de fadas, Odilon dá vida aos personagens em uma cadeira verde, exatamente como em uma entrevista normalmente acontece, com o entrevistado em foco. Cada capítulo do livro, um dos personagens fala sobre sua história e é muito divertido acompanhar estas falas tão conhecidas por nós leitores.
Ao final desta seleção, deixamos um convite: leia um livro infantil neste mês de Abril e descubra as maravilhas da imaginação, da esperança e da pureza das crianças. E experimente assim como Manoel de Barros, os “Exercícios de ser Criança” :
“O menino aprendeu a usar as palavras.
Viu que podia fazer peraltagens com as palavras.
E começou a fazer peraltagens.
Foi capaz de interromper o voo de um pássaro
botando ponto no final da frase.
Foi capaz de modificar a tarde botando uma chuva nela
[...]”
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