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Paula Lima

Lima Barreto, Clara dos Anjos e a Flip 2017

Atualizado: 25 de out. de 2019



Oi, pessoal, e aí? Tudo bem com vocês?

Bom, o livro de hoje vem na esteira da última Flip, a Festa Literária Internacional de Paraty, que aconteceu no final de julho (alguém leu alguma coisa sobre?). O autor homenageado deste ano foi o Lima Barreto, por isso vamos falar sobre a versão em quadrinhos do livro Clara dos Anjos, que pode ser uma boa via de acesso para a obra do Lima. Que tal dar uma olhada, hein?

Essa versão da obra ilustra bem o subúrbio carioca do início do século 20, cenário de vários títulos do autor e, como o Rio mudou muito de lá pra cá, dá pra visualizar legal a ambientação dos romances dele (além do próprio Clara dos Anjos), olha só:


Ainda que o livro trate de um grave acontecimento da vida de Clara, uma menina negra e pobre de 17 anos que é filha de um carteiro, o narrador deixa claro que a história dessa moça é também a de muitas outras como ela. Todas se apaixonam e são enganadas por um modinheiro (cantor que toca modinhas no violão) conquistador chamado Cassi Jones, que não faz nada da vida além de participar de brigas de galo. Apesar de também ser morador do subúrbio, a condição social de Cassi é mais elevada: ele é branco, seu pai tem um bom trabalho e sua mãe inventa que são descendentes de um lorde inglês embaixador no Brasil – sabem como é, pra elevar a “importância” da família com aquele toque de nobreza.

Mas, rapaz, ele é tão canalha – tão, tão canalha – que até o pai o expulsa de casa; dá um nervoso! O enredo, em que ele “escolhe” uma nova vítima, se finge de apaixonado, conquista a moça, a “desonra” e some, se repete tantas vezes que o cara vira assunto de jornal e de polícia e precisa sumir mesmo do bairro por um tempo.

Enfim, mau-caratismo explícito. Porém, chama muita atenção que, ainda que a Clara dê título ao livro, ela apareça bem menos que seu vilão, como se a sua “condição” – de mulher negra e pobre no início do século passado na antiga capital federal – reservasse a ela um espaço onde lhe são negados os direitos e a voz, inclusive na forma do romance.

Lima Barreto – ele mesmo negro e morador da periferia do Rio – traz o racismo e a precariedade da vida suburbana do Rio para o centro de sua obra. Como esses problemas permanecem atuais, mesmo depois de cem anos, a Flip que homenageou o autor foi permeada pela discussão a respeito e por marcos muito significativos: dos autores convidados para as mesas de debate neste ano, 30% eram negros (como Lázaro Ramos, que lançou o livro Na minha pele, pela Companhia das Letras; vejam o vídeo em que ele interpreta um texto de não ficção do Lima) e mais de 50% eram mulheres. Esses números não traduzem toda a importância dessa edição da festa, que, em quinze anos, foi a mais diversa até aqui. Um dos destaques, inclusive, foi a fala da professora Diva Guimarães, de 77 anos, que estava na plateia de uma mesa com o próprio Lázaro Ramos:


Bom, dá pra dizer que a obra do Lima Barreto ainda deixa muitos ecos e espaços pra continuar essa discussão, não é, não? A biblioteca do colégio tem muitos títulos dele, inclusive essa versão em quadrinhos de que falamos aqui.

Por hoje, é isso! Até a próxima 😊

Livro: Clara dos Anjos

Autor: Lima Barreto (adaptação de Wander Antunes)

Ilustrador: Lelis

Editora: Quadrinhos na Cia

Páginas: 112

Ano: 2011

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