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Tornou-se filme, mas nunca deixou de ser história – ainda estou aqui.

Maysa Rocha

Olho da publicação: Ainda Estou Aqui, de Marcelo Rubens Paiva, é um relato pessoal e potente sobre a perda e a memória. O livro narra a história de sua mãe, Eunice, que após perder o marido, Rubens Paiva, durante a Ditadura Militar, enfrenta a dor do Alzheimer enquanto luta por justiça e preservação da memória. O filme baseado no livro, dirigido por Walter Salles, conquistou grandes indicações, incluindo ao Oscar de 2025. Aqui, você encontra uma reflexão sobre a história da família Paiva e a importância de lembrar e resistir, além de uma lista com a trilha sonora do filme, algumas frases do livro e as principais diferenças entre o livro e a adaptação fílmica!


Memórias que ecoam, ainda estou aqui: 

Ao ler Ainda Estou Aqui, de Marcelo Rubens Paiva, o leitor é conduzido por uma jornada íntima e cheia de camadas, entrelaçando memória, dor e superação. Mesmo achando que já se está preparado para o que vem pela frente, o livro tem o poder de nos surpreender a cada página.

O foco da história está em Eunice Paiva, mãe do autor, uma mulher cuja trajetória é realmente impressionante. Viúva após o desaparecimento de Rubens Paiva, um deputado preso, torturado e morto durante a Ditadura Militar, Eunice teve que criar os filhos sozinha em um período de caos absoluto. Mas ela não se entregou. Pelo contrário, ela se levantou com coragem, tornando-se uma defensora dos direitos humanos, e lutando não só por justiça, mas também pela preservação da memória.

E é essa memória que, com o tempo, vai se apagando, com o avanço do Alzheimer. Marcelo descreve essa perda com uma sensibilidade que toca grandemente. Não é apenas um relato de um filho que vê a mãe se transformar, mas um testemunho de amor e cuidado, mesmo nos momentos mais desafiadores. A obra nos faz refletir sobre o impacto dessa doença em tantas famílias e como Marcelo consegue, com uma honestidade comovente, traduzir algo tão pessoal e, ao mesmo tempo, universal.

Além da questão familiar, o livro é um resgate histórico. Marcelo aborda o silêncio que veio após esse período, as perguntas sem resposta e as cicatrizes que o tempo não conseguiu apagar. O desaparecimento de seu pai é uma ferida aberta que simboliza a dor de inúmeras famílias brasileiras.

A leitura flui porque Marcelo tem uma escrita próxima, quase como se estivesse conversando diretamente com o leitor. Ele não tenta enfeitar demais, mas também não é excessivamente seco. É direto quando necessário, e emocionado quando a história pede.

No final, fica a sensação de que Ainda Estou Aqui é mais do que uma homenagem à mãe ou um desabafo sobre o passado: é sobre a ditadura, é sobre a perda de um pai, é sobre a infância, é sobre Alzheimer e sobre tantas outras coisas que fica difícil listar aqui. É sobre vida, e a vida não se resume a um aspecto apenas. É também um lembrete poderoso sobre a importância de manter as histórias vivas, seja nas memórias pessoais ou nos livros. Pois lembrar é, de certa forma, resistir.



Livro x Filme 

1- A Eunice do filme é um pouco diferente da Eunice do livro, enquanto Fernanda Torres deixa a personagem acalorada, o livro mostra um personagem mais introspectiva;

2- O filme foca na família já no Rio de Janeiro, mudança que ocorre após o exílio de Rubens Paiva. Já no livro, a história começa antes mesmo do Golpe de 64, dando muito mais riqueza de detalhes;

3- O cachorro chamado Pimpão, nunca existiu de verdade. Pimpão era na verdade um gato (ou vários) que aparecia com certa frequência na casa da família;

4- Diferente do livro, o filme segue uma ordem cronológica, do ponto de vista de Eunice;

5- O livro conta com detalhes importantes que acabaram sendo deixados para trás na adaptação, como o recado secreto que Marcelo levou a uma vizinha quando o pai foi preso.


Músicas usadas no filme

O filme se destaca pela escolha das músicas que, em diversas cenas, se conecta de maneira quase orgânica com as falas dos personagens. Como a maior parte da história se passa na década de 1970, as músicas da MPB e do movimento Tropicália foram escolhidas com precisão, estabelecendo o clima das cenas e imergindo o público no contexto histórico da época. Ouça no Spotify: https://open.spotify.com/playlist/2vxMHb9FvS4EUQRBrc9Ixb 


No papel ou no cinema, a mensagem se mantém

Ainda Estou Aqui, lançado em novembro de 2024, pertencente ao gênero drama biográfico. Dirigido por Walter Salles, a obra conta com as talentosas Fernanda Torres e Fernanda Montenegro interpretando Eunice Facciolla Paiva em diferentes momentos de sua vida, além de Selton Mello no papel de Rubens Paiva.

Com roteiro assinado por Murilo Hauser e Heitor Lorega, o longa é baseado na autobiografia homônima de Marcelo Rubens Paiva, publicada em 2015. No mercado internacional, o filme foi lançado sob o título I'm Still Here.


Tal mãe, tal filha: Agora é a vez de Fernanda Torres no Oscar

O Brasil chegou não com uma, nem com duas, mas sim com três indicações ao Oscar de 2025, são elas: Melhor Atriz (para Fernanda Torres), Melhor Filme Internacional e Melhor Filme. 

A seguir, uma lista dos outros prêmios que o filme está concorrendo: 

  • Critics Choice Awards: Indicado a Melhor Filme de Língua Não-Inglesa. Cerimônia marcada para 07/02;

  • GOYA: Indicado a Melhor Filme Ibero-americano. A premiação é considerada a maior do cinema espanhol e está marcada para acontecer no dia 08/02;

  • ICS Award: Indicado a Melhor Roteiro Adaptado e Melhor Atriz (Fernanda Torres). Os vencedores serão anunciados no dia 09/02.

  • BAFTA: Indicado a Melhor Filme de Língua Não-Inglesa. Marcada para 16/2, a premiação é considerada o Oscar britânico;

  • Oscar: Indicado nas categorias Melhor Atriz (Fernanda Torres), Melhor Filme Internacional e Melhor Filme (indicação inédita para o Brasil). A cerimônia acontece em 02/03.

O filme já conquistou prêmios importantes como o de Melhor Roteiro no Festival de Veneza, Globo de Ouro, de melhor atriz de filme dramático e o Satellite Awards de Melhor Atriz, ambos para Fernanda Torres. 


Em 1999, Fernanda Montenegro foi indicada ao Oscar pela sua atuação em Central do Brasil, também dirigido por Walter. 25 anos depois, sua filha, Fernanda Torres também é indicada para a mesma categoria também por um filme de Walter. 

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