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  • Dalila Queiroz

Qual a função das imagens nos livros infantis?

Atualizado: 9 de jun. de 2022

Por muito tempo, se associou a ilustração do livro como forma de facilitar a sua leitura e até mesmo como uma maneira de infantilizar a obra. Hoje, sabemos que a ilustração possui muitas outras funções em uma obra literária, seja ela voltada para o público infantil ou não e isso abriu portas para novos olhares para a literatura, sobretudo para os livros ilustrados. Hoje, iremos abordar um pouco deste tema tão legal e importante na perspectiva da literatura infantil e desmistificar a leitura de livros ilustrados, contextualizando os diferentes tipos e algumas obras que são referências no assunto!



Ah! As imagens do livro infantil… as crianças adoram, chamam a atenção e dão vida à história. Sempre que pegamos um livro infantil lá estão elas, coloridas ou em preto e branco. Bom, pelo menos é o que desejam as crianças, se não tiver imagens não tem jeito, o livro para elas perdem a graça. Mas e você, já parou para pensar na importância das imagens ou sua função nos livros infantis?

É exatamente isso que o texto de hoje vem mostrar. As imagens não são meros enfeites, mas desempenham papéis importantíssimos na história, principalmente, na literatura infantil. As ilustrações possuem um papel dentro da história carregado de significados e podem contribuir para a formação leitora, imaginária e criativa da criança.

O livro de imagens não é um mero livrinho para crianças que não sabem ler. Segundo a experiência de vida de cada um e das perguntas que cada leitor faz às imagens, ele pode se tornar o ponto de partida de muitas leituras, que podem significar um alargamento do campo de consciência: de nós mesmos, do nosso meio, de nossa cultura e do entrelaçamento da nossa com as outras culturas, no tempo e no espaço (CAMARGO, 1995, p. 79).

A leitura é muito importante no processo de ensino e aprendizagem das crianças, ela dá suporte e pode se configurar como ferramenta nesse processo e, além disso, as imagens nos livros infantis complementam, protagonizam ou reforçam a mensagem para aquelas crianças que ainda não sabem ler ou estão em processo de alfabetização, mas que já fazem a leitura das imagens. Isso mesmo, nós lemos as imagens. Fazemos isso o tempo todo, aliás, desde a pré-história se faz o uso da leitura de imagens, como quando os homens desenhavam nas cavernas para transmitir suas mensagens, ou quando apreciamos um quadro; ao ver anúncios e propagandas em revistas e jornais e, também, leitura das expressões faciais. Como vimos, somos muito visuais, isso porque as imagens refletem ideias, transmitem informações e estão repletas de propósitos e significados.

É a capacidade de ver, compreender e, finalmente, interpretar e comunicar o que foi interpretado através da visualização. De modo geral, o letrado visual olha uma imagem cuidadosamente e tenta perceber as intenções da mesma. O letramento visual permite que o indivíduo reúna as informações e ideias contidas em um espaço imagético colocando-as no seu contexto, determinando se são válidas ou não para a construção do seu significado (SILVINO, 2012, p. 03).

Agora, voltando aos livros infantis e suas imagens, esse letramento visual do qual falamos, trabalhamos e necessitamos formar nossos alunos, nem sempre teve seu devido valor, visto que antes as imagens dos livros infantis eram apenas ornamentos e pouco exploradas. Hoje, as imagens ocupam grandes espaços e significados nos livros infantis, pois elas, em alguns casos, tornam-se protagonistas ou complementam o texto: é texto e imagens trabalhando juntos para transmitir uma mensagem.

Cademartori (2010, p. 18) acrescenta que grande parte da literatura contemporânea apresenta um texto verbal e um texto visual, propiciando experiências com os dois códigos. O ilustrador é igualmente um narrador; em muitos livros, é autor dos dois signos, como nas obras de Ângela Lago, Fernando Vilela, Roger Mello, Eva Furnari, Rui de Oliveira, Caulos, Mariana Massari e muitos outros.

Para as autoras Palo e Oliveira (1998, p. 48), “a imagem, por sua vez, funde-se à cena, completando a narração ao oferecer novos elementos para o olho que vê, mas não lê”.

Como vimos, existem várias relações imagem-texto, existem livros só de imagens, livros com texto e imagem, onde as imagens são predominantes e livros em que o texto predomina as imagens. Como já dito anteriormente, as imagens nos livros infantis representam mensagens e em um único livro podemos observar várias relações de imagens, induzindo o leitor a processar e alternar funções a cada passagem e exercitando o cognitivo. Por isso, acreditamos que quanto mais cedo estimularmos a criança para a leitura de imagens, maior será sua habilidade em perceber, dar sentido, expressar e organizar todas as informações contidas em uma imagem.

Veja alguns exemplos de relações semânticas de imagens encontrados nos livros infantis:




O livro “Bárbaro”, de Renato Marconi, da Editora Companhia das Letrinhas, é um livro de dominância, onde a imagem tem mais prioridade que o texto e, por isso, o domina. Ele vai desafiar sua imaginação. Conta a história de um bravo guerreiro que enfrenta altas aventuras, se deparando com plantas carnívoras, monstros, animais horripilantes, pássaros enormes e cuspidores de fogo e cobras venenosas gigantescas. É, sem dúvida, um livro que nos traz algumas reflexões, desperta nossa imaginação, traz sempre uma surpresa a cada virada de página e tem um final surpreendente. Não podemos esquecer que por se tratar de um livro de imagens podemos contar, recontar e reinventar sempre que o lemos, pois suas possibilidades de criação são muitas.




Já o livro “Quem soltou o pum?”, de Blandina Franco, ilustrado por seu esposo José Carlos Lollo, da Editora Companhia das Letrinhas, nos dá o exemplo de complementaridade entre texto e imagens. A história conta como o Pum é barulhento, fedido e sempre é solto na hora errada. O livro narra a história de um menino e suas aventuras com o Pum, mas ao contrário do que achamos, não é uma história sobre flatulências não. O Pum da história é um cachorrinho caramelo muito sapeca. Mas, se não observamos a ilustração do cãozinho, a história não fará sentido e seremos levados a pensar que se trata de flatulências e não de um cachorro. São as imagens complementando o texto, necessitando fazer a leitura das duas linguagens para compreendê-lo. E sabe o que é mais engraçado? Que a autora e o ilustrador gostaram tanto de soltar o Pum juntos, que soltaram seis vezes, isso mesmo, são seis livros contando essas aventuras barulhentas, fedidas, molhadas, atrapalhadas e vergonhosas. Temos todas essas aventuras na biblioteca do nosso colégio, confira e dê muitas risadas.




Como exemplo de discrepância, o livro "Sete cachorros amarelos”, da autora e ilustradora Silvana Rando, Ed. Brinque-Book é uma ótima opção. Nesse livro a autora também brinca com palavras e imagens. Ela conta a história do menino Teodoro que queria muito um bichinho de estimação, e mesmo sua mãe criando galinhas ele não achava graça nelas, então ele resolve pegar um cachorro da vizinha, afinal, ela tem sete cachorros e não sentiria falta de um. Porém, é óbvio que a vizinha sentiu falta do seu cachorro e não foi difícil achá-lo com a ajuda dos outros seis. A partir desse ponto da história entra a discrepância da imagem e texto, porque quando a menina descreve as qualidades e diferenças de cada um dos cachorros, o texto descreve uma coisa e a imagem mostra claramente outra. E o incrível desse texto é que além da discrepância tem a complementaridade; lembra que falei que a mãe dele criava galinhas, né?! Pois é, a autora menciona o nome “galinhas” somente no começo do texto, porém, a todo o momento as galinhas que o menino dizia ser sem graça, aparece em todas as páginas, fazendo malabarismo e tentando chamar a atenção do menino, que não as vê, ou seja a complementaridade das imagens das galinhas dão outro sentido no livro, sem que sejam mencionadas em palavras. Em único livro encontramos exemplos de discrepância e complementaridade, onde a imagem vem carregada de significados e também contam uma história.

Com certeza depois dessa leitura você não olhará as imagens de um livro da mesma forma. E se isso acontecer ficaremos muito contentes, pois atingimos nosso objetivo de proporcionar aos nossos leitores novos olhares para as ilustrações dos livros infantis, e acima de tudo entenderão que elas não são apenas ornamentos para preenchimento das páginas com função de atrair o olhar do leitor, e sim geradoras de conhecimento, capaz de modificar a maneira de pensar e ver o mundo, despertar o cognitivo, imaginário e a criatividade.


 

CADEMARTORI, L. O que é literatura infantil. 2 ed. São Paulo: Brasiliense, 2010.

CAMARGO, L. Ilustração do livro infantil. Belo Horizonte: Editora Lê,1995.

PALO, M. J.; OLIVEIRA, M. R. D. Literatura Infantil: voz de criança. 3 ed. São Paulo: Ática, 1998.

SANTAELLA, Lucia. Leitura de imagens. São Paulo: Melhoramentos, 2012.

SILVINO, F. F. Letramento visual. ANAIS – Seminários Teóricos Interdisciplinares do SEMIOTEC p. 1-6, nov 2012.


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