Quem aqui já teve um acesso de raiva? Daqueles furiosos e incontroláveis, em que nos transformamos em outra pessoa? Aposto que muitos responderão afirmativamente a esta pergunta e possivelmente outros virão a respondê-la; com as crianças a situação é a mesma e é ainda mais complexo: neste momento da vida, as crianças estão interiorizando os sentimentos e por diversas vezes pode ser muito difícil de os controlarem, principalmente o sentimento da raiva. O texto de hoje aborda o famoso livro da autora Blandina Franco e nos mostra como olhar de forma diferente para um sentimento tão desagradável.
“No começo era só uma raivinha à toa.
Uma coisa boba, que nem tinha razão de ser, mas que mesmo assim, era”.
É desta forma que começa “A raiva”, obra de Blandina Franco, vencedora do prêmio Jabuti 2015. Trata-se de um livro infantil que mostra, de maneira lúdica, como um sentimento pode ganhar força dentro de nós e sobre seu impacto em nossa vida.
Quantas vezes você já se viu em uma situação que te provocou uma emoção que ficou reverberando por dias até ser vivida por completo, resolvida, extravasada ou simplesmente esquecida? Seja positiva ou negativa é assim que as emoções se manifestam e são capazes de nos impulsionar ou barrar, criar harmonia ou discórdia, nos dar sonhos ou nos tirar o sono e até mesmo fazer adoecer.
Na psicologia, quando alimentamos uma emoção por muito tempo, ela vira sentimento. E é aí que grandes problemas surgem em nosso cotidiano, danificando nossa mentalidade e refletindo em como agimos uns com os outros. Para uma criança, pode ser mais difícil verbalizar o que está sentindo e por isso, muitas vezes ela chora, grita, se debate. A narrativa de Blandina nos apresenta uma raiva que, possivelmente, foi resultado de uma situação, que gerou um pensamento, que através da emoção começou a se comportar de maneira a tomar conta de tudo, causando uma enorme bagunça.
Com ilustrações de José Carlos Lollo, a obra toma forma sobre o olhar, dimensionando o quanto a personagem principal cresce disparadamente em cor de vermelho vivo, ressaltando que a raiva tem a capacidade de nos alterar, como nos trechos:
“E não adiantava
alguém tentar falar com ela,
porque a raiva é surda.
Não adiantava
tentar mostrar
alguma coisa pra ela,
porque a raiva é cega.
E muito menos
tentar convencer
a raiva de alguma coisa,
porque ela é vaidosa,
burra e só pensa nela”.
O famoso psicólogo Carl Gustav Jung (2013) coloca que nossa civilização se caracteriza por se pautar pela extrema racionalidade, deixando de lado o aspecto emocional e sentimental de nossas vidas. Porém, ao menosprezarmos o lado emocional, este se torna inconsciente, transformando-se em um complexo autônomo que invade a consciência, tomando-a de assalto. Neste sentido, a raiva pode dominar nossa consciência, fazendo que fiquemos cegos, privados da razão, incapazes de considerarmos os argumentos dos outros. Neste sentido, Jung orienta para que reflitamos sobre as nossas emoções, buscando um equilíbrio entre razão e sentimento. Então, quando sentirmos raiva, é sempre prudente refletirmos sobre o que a está motivando, e não agir impulsivamente. Há um ditado oriental que diz que "a bronca boa se dá no dia seguinte", apontando que não é bom manifestar a raiva imediatamente. Fazendo assim, damos tempo para refletirmos sobre o que nos causou a ira, e se for o caso de termos que lidar com a pessoa que nos provocou, consigamos fazer isso com racionalidade e serenidade.
Por último, vale lembrar que você não é sua emoção, você não é nenhum de seus problemas! Quando pensar em levar algo adiante se pergunte: “vale mesmo a pena?”, “o que eu ganho com isso?”, “minha saúde será comprometida?” — tudo isso respirando bem fundo. Você vai ver que por trás de toda aquela areia irracional que cobre sua visão, tem uma vista linda pro mar
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