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“A maneira de dar canto às palavras o menino aprendeu com os passarinhos”.

  • Foto do escritor: Gabriela Traversim
    Gabriela Traversim
  • 12 de jun.
  • 3 min de leitura

O poema que dá título ao texto desta semana é de Manoel de Barros, homenageado da nossa festa junina deste ano e que não poderia ficar de fora do Blog do Uirapuru. Seus poemas marcaram as apresentações de dança dos alunos , assim como marcam aqueles que os leem. Carregado de simplicidade e de amor à natureza, Manoel é um poeta da vida simples e que transmite em palavras o sentimento de viver plenamente.

Manoel nasceu em Cuiabá, no Mato Grosso em 1916, filho de João e Alice Leite de Barros, era o segundo filho mais velho e teve outros cinco irmãos. Viveu sua infância à moda pantaneira em meio à natureza e retratou isso, depois de adulto, em seus poemas. Era um inventor de palavras: gostava de brincar com os significados das coisas e seus poemas são carregados dessas travessuras. 

“Eu só faço travessuras  com palavras.
Não sei nem me pular quanto mais obstáculos.”

Barros, M. Menino do Mato. Objetiva, 2015 p.33

Na mocidade, foi para o Rio de Janeiro para estudar e concluiu o curso de direito, mas após se casar com Stella Leite, retornou ao pantanal para viver como fazendeiro. 

Nequinho - apelido que recebeu na infância - gostava de brincar com seus poemas. Misturava os traços regionalistas da sua infância simples com ficção, valorizando a natureza e a vida no campo. O neologismo - uso de uma palavra que já existe para outro significado ou a invenção de uma nova palavra  - também era bastante presente em seu texto.

Outro autor brasileiro que tinha os mesmos princípios em seu texto era Guimarães Rosa, a diferença entre eles fica por conta de alguns pequenos detalhes: enquanto Manoel preferiria a poesia, Guimarães era mais próximo da prosa. Ambos valorizavam o mundo natural, mas Manoel preferia uma linguagem mais fluída e poética que retratasse a infância e sobretudo a simplicidade da vida. Guimarães Rosa também gostava de valorizar a natureza em seus textos, mas por outro viés: ele preferia abordar a complexidade do mundo humano e do sertão. 


Livros publicados por Manoel de Barros:

  • Poemas concebidos sem pecado (1937)

  • Face imóvel (1942)

  • Poesia (1956)

  • Compêndio para uso dos pássaros (1960)

  • Gramática expositiva do chão (1966)

  • Matéria de poesia (1974)

  • Arranjos para assobio (1980)

  • Livro de pré-coisas (1985)

  • O guardador das águas (1989)

  • Concerto a céu aberto para solos de aves (1993)

  • O livro das ignorãças (1993)

  • Livro sobre nada (1996)

  • Retrato do artista quando coisa (1998)

  • Ensaios fotográficos (2000)

  • Exercícios de ser criança (2000)

  • O fazedor de amanhecer (2001)

  • Tratado geral das grandezas do ínfimo (2001)

  • Águas (2001)

  • Para encontrar o azul eu uso pássaros (2003)

  • Cantigas para um passarinho à toa (2003)

  • Poemas rupestres (2004)

  • Memórias inventadas I (2005)

  • Memórias inventadas II (2006)

  • Memórias inventadas III (2007)

  • Menino do mato (2010)

  • Escritos em verbal de ave (2011)

  • Portas de Pedro Viana (2013)

  • Meu quintal é maior do que o mundo: antologia (2015)


Os livros de Manoel de Barros são publicados pela Companhia das Letras. Os infantis pelo selo Companhia das Letrinhas e ilustrados por Kammal João. Os outros livros saem pelo selo Alfaguara e ganham ilustrações de sua filha, Martha Barros, artista plástica. 

Caminhos molhados, de Martha Barros.
Caminhos molhados, de Martha Barros.
“Tenho o privilégio de não saber quase tudo.
E isso explica
o resto.”

Barros, M. Menino do Mato. Objetiva, 2015 p.73


Em 2014, Manoel de Barros faleceu aos 97 anos, mas sua poesia continua viva nos corações de leitores de todas as idades. Seu falecimento marcou o fim de uma vida dedicada a transformar o cotidiano em encantamento e a dar voz às coisas miúdas do mundo. Seu legado é imenso: Manoel reinventou a linguagem poética brasileira ao valorizar a simplicidade, a infância, o mato e o silêncio. Ele ensinou que a poesia pode estar nas coisas mais desimportantes — como um sapo, um menino descalço ou um pedaço de chão — e que a grandeza do mundo está justamente no ínfimo. Hoje, seus versos seguem sendo lidos, estudados e celebrados, provando que a poesia, quando feita com alma, não morre jamais.


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