Para nós, ler é uma tarefa impossível de não ser realizada. Tudo o que fazemos depende da leitura. Escolher o que vamos comprar no supermercado ou pegar o ônibus correto; escolher um filme em cartaz no cinema ou o sabor do sorvete. Tudo isso depende da leitura e além dela ser extremamente útil em nosso dia a dia, a leitura na escola tem papel fundamental no desenvolvimento estudantil. Mas e fora dela? Será que os adolescentes leem? E se leem, o que eles pensam sobre isso? Na continuidade da nova seção "Jornada Literária" entrevistamos três alunas e vamos dividir a entrevista em duas partes, a primeira com o ponto de vista da Maria Seabra e da Lívia Martins do 2ª série do Ensino Médio.
Como começou seu contato com a leitura? Você se lembra do primeiro livro que leu?
Lívia - Começou quando eu tinha uns cinco, seis ou sete anos. Minha mãe comprou primeiro “O Pequeno Príncipe”, só que eu não li e ela comprou o gibi da Turma da Mônica Jovem e eu comecei a ler e fui para os livros, e só aí li “O Pequeno Príncipe". Daí eu entrei com livros espíritas, do Chico Xavier e só depois entrei com livros de romance, mas a verdade é que comecei com o gibi. E eu lembro qual foi o primeiro gibi que eu li. Eu amo a Turma da Mônica, sou fascinada pela Turma da Mônica Jovem e acho que os primeiros foram o 77 e 79, em que o mundo está acabando… “De volta para o futuro”, alguma coisa assim; “O fim do mundo” ou “assim no futuro".
Maria Eduarda - Também foi a Turma da Mônica Jovem, mas é porque a minha mãe trabalhava muito e quando ela chegava em casa eu já estava indo dormir e ela deitava comigo na cama e a gente dividia para ler o gibi. Eu lia uma página e ela lia outra, para eu aprender a ler. Então, eu era muito novinha mesmo. Eu ficava meia hora para ler uma página e ela lia em um segundo a página dela. E a cada dia a gente lia algumas páginas. Depois que eu aprendi a ler, eu ia muito na casa do meu avô e ele me dava um gibi por semana. Eu lia a Turma da Mônica normal, porque era menor e eu conseguia ler em uma semana.
Gabriela - Engraçado vocês comentarem que começaram a ler com Turma da Mônica Jovem, porque pra mim, eu comecei com a Turma da Mônica convencional e é bem legal ver estas diferenças geracionais.
Qual seu gênero literário favorito?
Maria Eduarda - Eu não sei, acho que suspense, talvez. Eu gosto muito de ler suspense, é o meu gênero favorito, mas normalmente quando eu leio me dá uma “ressaca literária” e eu passo muito tempo sem ler e aí, eu leio um romance para sair da “ressaca”.
Lívia - Eu acho que romance. Eu amo romance, não tem como! Mas eu gosto muito de romance psicológico, de drama, tipo “A biblioteca da meia-noite” e “As vantagens de ser invísivel”, mas romance não tem como. É o meu favorito.
Já começou algum livro e não terminou? Por quê?
Lívia - Já, inclusive eu desisti de cinco só esse ano. É porque eu sinto que não estou na “vibe” do livro. Eu comecei a ler “Gente pobre”, do Dostoievski, só que eu olhei e pensei “não estou na 'vibe' de ler esse livro” e aí eu mudei para “Crepúsculo”. Acho que eu desisti de um livro porque era ruim e eu não gostei, que era da Turma da Mônica Jovem, inclusive. Mas foi só um. O resto eu não leio no momento porque eu não estou no momento, mas depois eu leio.
Gabriela - Você não abandona o livro de vez, você para e depois o retoma em algum momento?
Lívia - Exatamente!
Maria - Ah, eu já abandonei milhões de livros, mas é porque eu leio mais de um livro ao mesmo tempo e aí, às vezes, eu fico muito na "vibe" de um livro e esqueço da existência do outro, eu falo “não, depois eu leio” e normalmente eu esqueço de voltar e ler. Mas assim, na minha cabeça, um dia eu vou voltar e vou ler ele. Eu acho muitos livros interessantes, daí eu começo o livro e não termino.
Gabriela - E aí, você pegando mais livros do que você consegue, fica aquela coisa cinco livros do lado da cama, mais dez espalhados pela casa.
Maria - Sim, é mais ou menos isso.
O que é importante para você na escolha de um livro? Ou seja, o que te chama atenção em uma obra?
Maria - Acho que o título.
Gabriela - O título é mais importante do que, por exemplo, a edição do livro: capa dura, ou capa mole. Folha branca ou folha amarelada…
Maria - Não, isso influencia também, mas eu leio muito on-line. Então, às vezes, se eu acho a capa feia, eu vou e pego outra edição. Mas esse livro aqui (mostra o livro que está lendo no momento), eu olhei o título e falei “nossa que legal, vou pegar para ler.” A capa eu não achei muito lá estas coisas, mas sei lá, normalmente isso ou porque eu já ouvi falar da história, li um resumo e eu fico curiosa.
Gabriela - Quem já leu o livro tem alguma influência sobre a sua leitura? Sobre a sua escolha, ou não?
Maria - Não, quem me recomendou não importa. Me importa mais sobre o que o livro fala.
Lívia - Ah, sei lá. Quando eu vou comprar um livro a capa não importa tanto pra mim, porque eu leio muito livro de capa feia, porque eu gosto muito do título e da sinopse. E o preço, eu não vou mentir. Porque eu não gosto de ler on-line, eu não consigo me concentrar, então eu prefiro o livro físico e o preço afeta bastante. Mas eu gosto muito de ler a sinopse e entender sobre o que o livro vai falar, porque eu não vou comprar um livro que eu sei que eu não vou gostar, então eu prefiro ler a sinopse e o título mesmo.
Gabriela - Isso é mais importante que a edição do livro?
Lívia - Sim, a edição pode ser um fator na hora porque se tem um de capa dura e um de capa mole e tem uma variação de cinco reais, eu prefiro um de capa dura. Porque o livro é um investimento, né? Mas não influencia tanto assim… Porém a editora eu acho que influencia, na minha cabeça. Sei lá, porque tem editoras que eu sinto que tem um cuidado melhor com os livros. Igual esse aqui (mostra o livro que está lendo), eu to reclamando porque o corte desse livro está muito feio. Então, se eu fosse comprar na hora eu não compraria, porque é bem feio. Então, a editora influencia também.
Você tem um escritor ou escritora favorito (a)?
Lívia - Vão me julgar muito, mas Pedro Bandeira! Eu amo ele. Paula Pimenta e a Serena Valentino, que ela escreve sobre os vilões da Disney. Eu tenho que ter todos os livros deles… É que o Pedro Bandeira escreve muito para criança, mas os livros infanto-juvenis dele são surreais de bom. Então, Paula Pimenta, Pedro Bandeira e Serena Valentino são os meus favoritos da vida.
Maria - Eu gosto muito do Raphael Montes, do Vitor Martins que escreveu “Se a casa 8 falasse”, “Quinze dias” e… ah, um outro livro que eu não lembro, que eu só lembro do subtítulo. Eu gosto dele também porque o autor também é tradutor e eu gosto das traduções dele. E eu gosto de fora, da Victoria Aveyard da coleção “Rainha Vermelha" e “Destruidor de mundos”.
Na sua opinião, qual o papel do ambiente escolar na formação leitora? Você sentiu que a escola exerceu alguma influência na sua formação leitora?
Maria - Ah, acho que sim. A escola nos obriga a ler alguns livros e tem muito texto, muitos trechos de livros nas aulas e às vezes eu fico curiosa com algum livro que o professor mostrou algum trecho e eu vou procurar saber sobre. E também a biblioteca aqui… Ela é super organizada, super bonitinha. Tem um monte de recomendações, e eu acho isso muito legal, porque na escola que eu estudava não tinha isso. Daí eu não pegava livros na biblioteca, muito raramente. Então, eu acho que isso influencia.
Lívia - Eu acho que é muito importante para a formação, porque por exemplo, esse negócio de obrigar a ler livros, eu acho que é um negócio que tem que ser discutido, sabe? Porque dependendo do livro, às vezes, o aluno não está na fase de entender aquilo. Mas sei lá, na minha antiga escola tinha uma biblioteca que não era muito grande, mas tinha alguns livros muito interessantes que foi quando eu descobri o Pedro Bandeira. Então, eu acho que tem um papel fundamental porque é onde pode nascer um leitor, ou pode morrer também. Depende muito.
Se fosse indicar uma leitura que considera indispensável, qual seria? E pra quem você indicaria?
Lívia - Acho que a Maria vai concordar comigo, mas eu indicaria “As vantagens de ser invisível” para os adolescentes. Assim como “A biblioteca da meia-noite” e “Gente Ansiosa” são todos na mesma linha de raciocínio e para jovens são essenciais. E do Pedro Bandeira, a saga “Os Karas”. Para os jovens também, é muito interessante, porque traz muitas referências do que pode ser ou não ser o mundo. Essa coleção e esses três livros são muito importantes e eu apoio muito.
Maria - Já que ela já falou sobre a “As vantagens de ser invisível”, acho que “Os dois morrem no final” e “Se a casa 8 falasse”. Acho que assim, quando você está na adolescência já poderia ler esse livro. Só se você for criança, acho que não entenderia muito a "vibe" do livro, mas são dois livros que falam muito sobre fases da vida e como você lida e enxerga o que você fez no passado e o que você quer para o futuro. Então eu acho que são livros muito legais, porque depois que eu li eu fiquei muito reflexiva e comecei a dar valor para algumas coisas que antes eu não dava e não percebia.Tem um ponto de vista muito diferente, tanto que “Se a casa 8 falasse” o ponto de vista é da casa; quem conta a história é a casa, então é uma visão muito diferente e que são coisas que normalmente a gente não repara. É só sobre isso o livro e eu acho que é uma leitura muito fácil, muito fluida.
O que você acha que é importante para se formar enquanto leitor?
Maria - (Risos) Que perguntinha, né?! Ah, eu não sei, na verdade…
Gabriela - Você acha que é o estímulo de outras pessoas, ou um bom acervo, ou o livro se relacionar com a sua realidade. O que você considera importante?
Maria - Acho que, sinceramente, a leitura é muito humana, muito afetiva, muito da sua relação com o livro. Não interessa se você está lendo por um motivo acadêmico ou se você está lendo um romance porque você gosta. Acho que a principal motivação é que você quer algo, quer adquirir algum conhecimento daquilo, entendeu? Nem que seja só para você passar o tempo ou que você ache que aquilo vai acrescentar algo na sua vida, eu acho que o livro faz você sentir algo e você lê quando você quer sentir algo. Seja porque você está conhecendo alguma coisa nova, um livro mais acadêmico, mais científico, ou só se sentir bem lendo um livro de romance…
Lívia - Pergunta difícil! Mas eu acho que depende muito da pessoa e da realidade dela. Porque as motivações para você ler são muito diferentes, então como a Maria disse, às vezes você quer ler só por conhecimento ou você quer ler para fugir de uma situação tal, então eu acho que depende muito da pessoa e da realidade, das motivações dela. Às vezes, uma pessoa tem mais apego com a leitura do que outras, e tá tudo bem. Tá tudo certo.
Esta é a primeira parte da entrevista sobre a leitura sob o olhar dos estudantes. A conversa com as meninas foi muito divertida e bastante dinâmica, quase um bate-papo sobre livros. Uma curiosidade sobre a conversa foi que todas estavam com livros em mãos e a todo momento faziam referências a obras do nosso acervo ou a títulos que estão em alta entre os adolescentes. Na quinta-feira, dia 21 de Setembro, temos a segunda parte dessa conversa inspiradora que, com certeza, fará os leitores do Blog se interessarem (ainda mais) pelas maravilhas da leitura.
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