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Por que precisamos ler Anne de Green Gables?

Resenha do livro Anne de Green Gables, da autora Lucy Maud Montgomery, por Gabriela Traversim Constantino. Gestora da Biblioteca do Colégio Uirapuru, Gabriela é também licenciada em Pedagogia pela Universidade Federal de São Carlos, campus Sorocaba, e estudante de biblioteconomia pelo Centro Universitário Claretiano. Nessa resenha, cheia de referências literárias, Gabriela deixa o leitor com a sensação de que está perdendo algo precioso, se ainda não leu Anne de Green Gables. Você não vai querer perder essa resenha e depois dela, certamente, vai ficar com vontade de conhecer esse clássico infanto-juvenil.

Arte de Anne Shirley por society6.com


Anne de Green Gables é um clássico da literatura infanto-juvenil norte-americana, isto é fato. Anne foi comparada com Pollyanna, livro escrito por Eleanor H. Porter, por seu jeito meigo de encarar a vida. Recentemente, este clássico foi adaptado para a televisão pela Netflix, em três temporadas. Intriga saber por que, mesmo depois de tantos anos, Anne Shirley continua no imaginário dos jovens? Existe um motivo: Anne é uma personagem à frente de seu tempo, um modelo a ser seguido, por pessoas de todas as idades.

A jovem Anne, personagem dos romances escritos por Lucy Maud Montgomery, é uma menina que se tornou órfã muito cedo e acabou sendo adotada por um casal de irmãos, Marilla e Matthew Cuthbert. Fadada ao drama, Anne não perde a oportunidade de trazer um teor shakespeariano às suas vivências, sempre caindo em lágrimas, quando algo de ruim lhe acontece, ou imaginando romances de belas donzelas e bravos cavaleiros, para distrair-se de sua vida no orfanato. Depois de mudar-se para a região de Avonlea, Anne começa a estudar, embora já soubesse ler, conhece e faz amizade com crianças de sua idade e passa a ter relacionamentos saudáveis com todos aqueles que estão ao seu redor. E é a partir da leitura, que Anne consegue superar seus dramas e pesares.

Capa da edição mais recente de Anne de Green Gables pela editora Autêntica.


Anne de Green Gables é uma leitora ávida: ela cita autores como se os tivessem lido segundos atrás; sabe na ponta da língua o nome de personagens dos mais variados romances de cavalaria da época e não perde nunca a vontade de devorar livros atrás de livros. Por isso tem uma imaginação fértil, muito criativa. Por meio desta vivacidade adquirida das leituras, Anne conquista os irmãos Cuthbert, com histórias e mais histórias tagareladas.

A tagarelice, somada aos cabelos vermelhos, nos faz lembrar uma personagem muito especial da literatura brasileira: a boneca Emília, de Monteiro Lobato. Tanto Anne, quanto Emília são travessas e acabam soltando a língua quando não deveriam, mas é por intermédio das palavras e das histórias, que ambas entendem como a vida é. Apesar de falar pelos cotovelos, Anne e Emília nos ensinam algo sobre o poder da palavra e do conhecimento: estes podem mudar a nossa realidade.




Nos tempos atuais, nunca se fez tão necessária a leitura crítica e o discernimento adquirido pela leitura; ao ler Anne de Green Gables, entramos em um mundo em que a grandeza e a vitória se dão pelo bom uso do conhecimento e da palavra. Anne ganha liberdade quando supera seu medo de ser quem realmente é: uma menina cheia de conhecimentos e com muita vontade de aprender. Outra menina que me vem à mente quando lembro de Anne, é a Greta Thunberg. Ruiva e de trancinhas, a menina que é ativista pelo meio ambiente, também fala coisas que supostamente meninas de sua idade não deveriam falar e, com isso, ganhou a atenção do mundo todo para causas climáticas e que são relevantes para a população mundial. Infelizmente, assim como Anne, Greta foi julgada pelos adultos por “falar demais”, como se as crianças e os jovens não devessem argumentar e lutar por aquilo que realmente acreditam.

Anne, assim como Píppi Meialonga, é peralta e adora aventuras. Acaba se metendo em confusões com seus amigos ao lutar por uma causa, no caso de Anne: a educação.

Apesar de ter sido escrito em 1900, Anne de Green Gables é um romance atemporal. Existem milhares de “Annes” habitando jovens e adultos, meninos e meninas, prontos para falar e serem ouvidos pelos “mais velhos” e mudar o mundo. Pessoas com paixão e vontade de lutar por aquilo que acreditam. E que devem se aceitar, da forma como são. Porque, assim como as meninas faladeiras e ruivinhas de outros livros marcaram gerações, farão história na vida de muitas pessoas com seu jeito único de ser.

Os atores Lucas Jade Zumann e Amybeth McNulty, como Gilbert Blythe e Anne Shirley, em cena da série Anne With an E. Fonte: Observatório do Cinema.





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