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  • Dayan Marchini

Daniel no mundo do silêncio.

Sabemos que estamos vulneráveis a perdas, mas nunca estamos prontos para quando é com a gente, não é mesmo? Já imaginou acordar e descobrir que perdeu sua audição? É o que aconteceu com Daniel, assim como com o famoso músico Beethoven; ambos deixaram de ouvir, mas jamais de sentir o mundo ao seu redor. É o que você pode acompanhar na indicação de hoje, ao entrar no mundo silencioso de Daniel.


“A empatia é certamente um dos mais nobres sentimentos humanos. Para entender e ajudar o próximo é necessário se imaginar na condição dele”.
(Lázaro de Souza Gomes)


Escrito por Walcyr Carrasco, inspirado em um amigo de infância que também não ouvia, “Daniel no mundo do silêncio'' conta a história de um garoto que, devido a uma infecção, perdeu a audição aos sete anos de idade e passou a descobrir o mundo de maneira diferente. Desde então, o menino precisou tentar entender os gestos de seus pais e irmão para conseguir se comunicar em casa.


Tudo parecia muito difícil: Daniel não olhava quando chamavam seu nome e as sombras e luzes que entravam pela casa o assustavam como se fossem barulhos estrondosos. Por outro lado, como já havia escutado a Língua Portuguesa antes, às vezes conseguia entender, pelo movimento dos lábios, o que sua família dizia. Entretanto, foi preciso buscar uma escola de surdos para ele, o que foi ótimo, pois fez muitos amigos por lá, o que o ajudou a amenizar o silêncio que o cercava nesta nova etapa. Além do mais, não só aprendeu LIBRAS (Língua Brasileira de Sinais), mas também todos os conteúdos das disciplinas.


Devido ao avanço do filho em sua comunicação, seus pais decidiram matricular Daniel em uma escola comum, onde seu irmão Nicolau já estudava, para que ele convivesse com outras crianças. A princípio, o garoto adorou a ideia, mas a mudança não foi tão fácil assim. Nem os alunos, nem a escola estavam preparados para lidar com as diferenças. Piadas de mau gosto foram feitas com o novo colega, além de toda falta de empatia e exclusão entre a turma. Uma garota, em especial, detestou a presença de Daniel, o tratando com imensa intolerância, principalmente porque teve que ceder seu lugar na frente para que ele pudesse acompanhar melhor a aula, o que foi em vão. Embora tivesse habilidade para leitura labial, já havia se adaptado à LIBRAS e as pessoas na escola falavam rápido demais. Assim, ele voltou a se sentir dentro de uma caixa, constrangido e sozinho.

Primeira edição do livro, publicado pela editora Ática e ilustrado por Cris Eich. A segunda edição, em amarelo, é publicada pela editora Moderna e ilustrada por Ana Matsusaki.


Um dia, atravessando a rua ao sair da escola, Daniel passou por um grande susto. Quando viu o sinal abrir, colocou os pés na faixa para atravessar; só não esperava que um carro virasse a esquina em disparada . Ao ver o menino, o motorista buzinou e gritou, sem saber que a criança não podia ouvir. Foi nesse instante que Viviane, a menina que havia tido Daniel como um inimigo, percebeu o que era ser surdo. Se deu conta de que poderia gritar o quanto quisesse, de nada adiantaria. De imediato, a garota correu em direção ao colega e deu um puxão em seu braço, tirando-o da faixa. Os dois foram pro chão antes que o pior pudesse acontecer. Foi exatamente aí que Viviane descobriu o quão maldosa e desrespeitosa estava sendo esse tempo todo e tornou-se, então, amiga de Daniel.


Com um enredo leve, as ilustrações de Cris Eich somam ainda mais para que possamos pensar sobre as limitações, sobre a história de cada um e, principalmente, sobre respeito e acessibilidade. Inclusive, em diversas páginas, é possível perceber alguns sinais em LIBRAS, que colaboram para que o leitor conheça palavras nesta língua que é tão essencial para a comunicação em nosso país.


Vale lembrar que a LIBRAS é reconhecida como meio legal de comunicação e expressão desde 24 de Abril de 2002, através da Lei nº 10.436. Segundo o IBGE, há mais de dez milhões de pessoas com alguma deficiência auditiva no Brasil, logo, o desenvolvimento de políticas de inclusão para a comunidade surda fez com que a LIBRAS e outros recursos de expressão associados fossem reconhecidos como línguas oficiais. "O Dia Nacional do Surdo é comemorado em 26 de setembro em homenagem à fundação da primeira escola nacional de surdos, que ocorreu no Rio de Janeiro no ano de 1857, sendo atualmente o Instituto Nacional de Educação de Surdos (Ines). Há também o “Setembro Azul", que é o mês da visibilidade da comunidade surda brasileira.


Em Sorocaba, existe a equipe “Integra Surdos” que oferece atendimento gratuito a surdos e deficientes auditivos, além do curso de LIBRAS para quem precisa ou tem interesse em aprender mais sobre este universo tão delicado e ao mesmo tempo tão resiliente, além da Associação do Amor Inclusivo, uma organização sem fins lucrativos que atende pessoas com deficiência auditiva ou múltiplas.





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