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  • Foto do escritorGabriela Traversim

Ian McEwan e os 78 anos de uma batalha histórica

Atualizado: 25 de out. de 2019


Olá, pessoal, tudo bem?

Hoje nós vamos falar sobre a batalha de Dunquerque, acontecimento histórico ocasionado pela invasão germânica ao norte da França, que encurralou soldados britânicos e franceses durante o período de 25 de maio (há exatos 78 anos) a 4 de junho de 1940. O desfecho do ataque incluiu uma França envergonhada e ridicularizada, uma Inglaterra vitimada e obrigada a voltar para casa com ajuda de barcos civis (na famosa operação Dínamo, organizada por Winston Churchill) e uma Alemanha ainda mais orgulhosa da vitória que tinha em suas mãos.

Como se sabe, a Guerra terminou em 1945 e, no rastro da catástrofe humanitária, deixou muitas reflexões sobre questões éticas, morais e econômicas. Ian McEwan soube aproveitar essas reflexões históricas levantadas pela Segunda Guerra Mundial e transformá-las num romance que fala sobre amor, inveja, ciúme e ingenuidade.

Mas o que tem a ver a batalha de Dunquerque com Ian McEwan? Simples, ele usou a batalha como plano de fundo desse romance de que vamos falar hoje aqui no Blog, Reparação (Companhia das Letras, 2001). O enredo se desenrola em torno da história da jovem Briony e de sua irmã dez anos mais velha, Cecilia. A primeira, no auge da pré-adolescência, está envolvida pelo mundo da ficção, fantasiando sobre mundos inexistentes e escrevendo com afinco para realizar o sonho de ser uma escritora famosa. A segunda, recém-formada na universidade, é inferiorizada pela sua condição de mulher quando comparada com o filho da empregada, Robbie — este também recém-formado, com a educação custeada pelo pai das meninas.

Cecilia, Robbie e Briony convivem relativamente bem, até a mais jovem presenciar uma cena junto à fonte da casa entre a irmã e o rapaz. Tudo é distorcido na visão de Briony, e a situação converge para que ela sinta uma aversão profunda por Robbie e um ciúme desproporcional por Cecilia. Enquanto isso, os dois jovens descobrem uma paixão adormecida e profunda surgir entre eles.

Briony passa então a fantasiar sobre os episódios envolvendo sua irmã e Robbie, julgando-o culpado por algo que ela nem ao certo sabe se aconteceu. O caminho dos três toma rumos completamente diferentes: Robbie é sentenciado e condenado a escolher entre a prisão ou a Guerra; Cecilia, inconformada com a posição de seus familiares, revolta-se contra a vida que leva e decide se juntar às enfermeiras que trabalham com feridos nas batalhas; e Briony cresce com a dúvida a respeito de seu testemunho e decide se redimir, seguindo os passos da irmã.

A trajetória do livro perpassa os anos da Guerra, e todos os personagens amadurecem. Somos confrontados, nos últimos capítulos, com uma Briony arrependida, procurando redenção pessoal e o perdão da irmã. Robbie, desamparado e ferido, luta a todo custo pela sobrevivência na França e finalmente se depara com Cecilia, que, em busca de reencontrar seu amor impossível, vivia aflita sempre que um soldado ferido entrava em sua enfermaria.

A construção das relações humanas se dá por perspectivas diferentes durante todo o livro. Em vários momentos, acontece de uma cena ser narrada a partir de mais de um ponto de vista. Essa parece ser a grande jogada do autor, que posiciona o leitor como telespectador diante de diversos ângulos para compreender a mente de uma criança que presencia um ato de crueldade contra alguém querido. Os personagens secundários preenchem a trama com delicadeza, não havendo sobreposições. Cada um tem seu papel bem definido dentro da história e todos trabalham para a boa tessitura da trama.

Ian McEwan nasceu em julho de 1948, no Reino Unido, quando a Segunda Guerra já havia terminado havia pelo menos três anos. Contudo, ele nos mostra um cenário tão rico em detalhes que nos faz acreditar que tudo o que lemos em Reparação parece ter sido vivenciado pelo autor e estava guardado em suas memórias mais remotas, apenas a espera de serem trazidas à tona. Ele é considerado um dos mais importantes ficcionistas da atualidade e é vencedor de prêmios literários, como o The Man Booker Prize. A Companhia das Letras vai lançar mais duas obras do autor, Meu livro violeta e A criança no tempo, com previsão de chegar às livrarias agora em junho.

Para quem estiver interessado no assunto, dois filmes sobre o tema foram premiados no Oscar deste ano. Nas categorias de Edição, Edição de Som e Mixagem de Som, Dunkirk (2017), do diretor Christopher Nolan (Interstelar, 2014), levou as estatuetas. Olha o trailer aqui:


E, por Melhor ator (Gary Oldman) e Melhor maquiagem e penteados: Destino de uma nação (2017), do diretor Joe Wright, que coincidentemente dirigiu a adaptação cinematográfica do livro de McEwan, Desejo e reparação (2007). Os três filmes são dignos de fazer maratona!

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