A única certeza que temos é justamente a que mais assusta e não nos faz tão preparados assim para lidar com ela. Embora algumas culturas a aceitem muito bem e até façam celebrações, nós, do lado ocidental, ainda temos muita dificuldade para encarar a morte e principalmente, em como explicá-la para as crianças.
É exatamente sobre isso que trata o livro “Pode chorar coração, mas fique inteiro”, de Glenn Ringtved, publicado pela Companhia das Letrinhas. De maneira poética, a obra dialoga com os pequenos sobre este momento tão delicado, mostrando que, apesar do sofrimento inevitável, também é possível e importante entender que há beleza e conforto ao se despedir de quem precisa partir.
Quando a Morte aparece na casa da avó das quatro crianças deste livro, mostrando um lado gentil e empático, elas descobrem que a figura, aparentemente assustadora, é mais humana e delicada do que poderiam imaginar. Como dito na própria história: “se os dias de sol são especialmente divertidos porque sabemos que os dias de chuva virão, talvez a relação entre a vida e a morte também seja assim”.
Tamanho é nosso medo de perder, quanto também é o medo de ir. Temos mania de posse, apego e nos esquecemos que todo ciclo se fecha, que só é vital se for mortal, e que a sabedoria de deixar que o tempo se cumpra torna mais fácil o movimento de seguir. É o que encontramos também em um poema de Cecília Meireles, intitulado “Cântico IV”:
“Tu tens um medo:
Acabar.
Não vês que acabas todo o dia.
Que morres no amor.
Na tristeza.
Na dúvida.
No desejo.
Que te renovas todo o dia.
No amor.
Na tristeza.
Na dúvida.
No desejo.
Que és sempre outro.
Que és sempre o mesmo.
Que morrerás por idades imensas.
Até não teres medo de morrer.
E então serás eterno”.
Deixamos esta indicação para que você possa respeitar e viver o luto quando ele chegar, pois todo livro infantil, também é um livro para adultos. Que seu coração chore, mas fique sempre inteiro.
Se você quiser ler mais sobre o assunto, não deixe de conferir os textos publicados pelo Blog da Letrinhas: O luto e a saúde mental em tempos pandêmicos e Como falar sobre morte com as crianças.
Nossa! Que maneira mais linda de expressar sentimento de cuidado por alguém! Só o título do livro já é transformador de fato!
Dar empatia em tempos de luto é realmente um desafio, pois queremos aconselhar, dar exemplos, mostrar superação, quando a pessoa de fato precisa tão somente da nossa presença e um colo para chorar e por fim, ficar inteiro.
Obrigada por compartilhar assuntos tão presentes e por vezes tão delicados de se conduzir!🌺