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  • Mariane Esteves

Pelo direito à voz

Texto escrito por Mariane Esteves Bieler, professora de Português do 5º ano do Fundamental. Mari é formada em Letras pela Universidade de São Paulo e possui mestrado em Linguística na mesma instituição. Neste texto, inédito no blog, Mari narra o início do projeto "Mulheres que transformam", desenvolvido em parceria com a plataforma Árvore Livros.


Dentro de uma palavra tão pequena mora um significado gigantesco. Ter voz é, mais do que falar ou escrever o que se pensa, sente ou deseja, poder ir além do que a linguagem verbal é capaz de comunicar. Abraços, beijos, acenos de mão, movimentos de cabeça ou de corpo também são maneiras de ativar a voz daquelas que, por tanto tempo, não tiveram direito à ela.

Ao longo da história, a luta feminina por uma participação mais efetiva na vida social colheu lindos e prósperos frutos. O número de mulheres, que hoje produz literatura de qualidade, assume cargos de liderança e busca transformar a realidade em que vivem é cada vez maior.

Não são poucos os exemplos de figuras femininas que mudaram a história, que fizeram do mundo sua casa e hoje convidam todos a fazer parte da mudança que desejamos no nosso planeta. Transformar o lugar em que vivemos em um espaço igualitário é papel de cada um de nós. A literatura tem feito muito bem sua parte ao abrir o caminho para novas perspectivas de entender a realidade: incluindo o ponto de vista feminino.

Em seu belo poema "Vozes-Mulheres", Conceição Evaristo nos faz refletir não apenas sobre a escravidão no Brasil, mas também sobre o silenciamento feminino vivido por gerações de mulheres que reivindicaram conquistas que hoje entendemos como essenciais e naturais na nossa vida diária. No trecho do poema a seguir, é possível perceber que a palavra "voz" é também sinônimo de vida e liberdade.

Mais do que apenas falar, há a urgência da ação, de tornar realidade os anseios mais legítimos e que refletem a necessidade de ver materializados no presente os desejos e as vontades femininas.

A voz de minha filha
recolhe todas as nossas vozes
recolhe em si
as vozes mudas caladas
engasgadas nas gargantas.
A voz de minha filha
recolhe em si
a fala e o ato.
O ontem – o hoje – o agora.
Na voz de minha filha
se fará ouvir a ressonância
O eco da vida-liberdade.

Evaristo, Conceição. Vozes-Mulheres. In: Poemas da recordação e outros movimentos. Rio de Janeiro: Malê, 2017.

Poder usar a voz a serviço da promoção da igualdade é caminhar rumo à libertação e tornar mais concreto o sonho de gozar plenamente todos os momentos desafiadores, mas de muito aprendizado, que a vida tem a oferecer. É viver a liberdade em sua totalidade.

Nesse sentido, dois temas foram colocados: mulheres e transformação. Motivados por dois vocábulos tão relacionados e semanticamente próximos quando se trata da prática cotidiana, os alunos do quinto ano estão iniciando seu mergulho nas profundezas do mar feminino. Inicialmente serão convidados a penetrar o universo literário das mulheres, lendo e conhecendo sobre a autora Clarice Lispector, uma especialista em desvendar a alma humana, especialmente a do sexo a que pertence.

Dando sequência ao processo de imersão nesse universo, também estudarão Malala e Frida Kahlo, duas figuras que, inquestionavelmente, ajudaram a colocar em discussão os papéis femininos e mostraram que ir à escola ou ser uma artista de reconhecimento internacional também é coisa de menina.

O objetivo dessa trajetória literária é aproximar os estudantes de figuras importantes, mas, muitas vezes, diminuídas ou silenciadas no dia a dia. Além disso, também é desejável praticar o olhar atento para aquelas que estão sempre ao nosso lado e fazem a nossa existência mais confortável, completa e feliz.

O convite está feito: embarcar juntos rumo a uma parte de nós que está finalmente encontrando seu espaço no mundo e mostrando seu valor e sua voz. Que tal começar lendo, como acontecerá com os quintos anos, uma das indicações abaixo?


Malala: a menina que queria ir para a escola, de Adriana Carranca;

Bom mergulho!


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