Em 2003, um projeto de lei (nº2.762) definiu o dia 31 de Outubro como o dia do Saci, aqui no Brasil. O intuito dessa data, é a celebração da cultura brasileira, especialmente do folclore e de suas histórias tão emblemáticas e cheias de peripécias. Acontece, que aqui no Uirapuru o Saci é celebrado o ano inteiro pela turma do 1º ano do Ensino Fundamental. Para enaltecer este personagem tão caricato da nossa cultura, o texto de hoje vai contar um pouco do projeto e sobre o livro escrito por Monteiro Lobato.
O primeiro livro trabalhado do Monteiro Lobato, Ensino Fundamental, é o Saci, que foi publicado originalmente em 1921. Dê lá pra cá, muita coisa mudou. Além do contexto histórico, os modos de se trabalhar o livro infantil também.
A escolha da versão da obra a ser lida influencia muito em como esse trabalho é desenvolvido com os alunos, afinal, estamos falando de uma obra com uma escrita marcada pelo tempo-histórico e que carrega muitas marcas de um período bastante complexo na história do Brasil. Por isso, a edição que é escolhida no primeiro ano é organizada e revisada pela professora Marisa Lajolo. Ela é especialista em literatura infantil brasileira e organizou, junto de João Luís Ceccantini, a obra Monteiro Lobato, livro a livro: Obra infantil. Marisa dedicou muita atenção na hora de organizar o texto deste livro e adicionou notas explicativas ao longo de toda a edição. Na verdade, as notas são de Marisa, mas quem as interpreta é a bonequinha mais tagarela da literatura e a vovó mais atenciosa: Emília e Dona Benta.
Uma das ilustrações do livro: Cuca e Narizinho. Na segunda imagem, a capa desta versão do livro de Monteiro Lobato.
A história do Saci, neste livro, começa com o Pedrinho escolhendo onde passar as férias escolares: no sítio de sua avó, Dona Benta.
“Pedrinho não podia compreender férias passadas em outro lugar que não fosse o Sítio do Picapau Amarelo, em companhia de Narizinho, do Marquês de Rabicó, do Visconde de Sabugosa e da Emília.” p. 11
Pedrinho sempre foi reconhecido por sua coragem e astúcia! Sempre se gabou de não ter medo de nada (exceto vespas), mas bem lá no fundo o medo do Saci o assombrava e é justamente nesta história que ele irá confrontar tal ser do folclore nacional. E foi com a ajuda do Tio Barnabé que ele aprendeu os macetes de como capturar um Saci e isso foi o suficiente para enfiar os meninos em uma confusão tremenda pelas florestas ao redor do Sítio. Repleto de personagens emblemáticos do folclore, Pedrinho e o Saci vão descobrindo as maravilhas das lendas tradicionais brasileiras e representando histórias que foram passadas de geração para geração.
Roda de leitura
As professoras do 1º ano, me contaram um pouco sobre o projeto de leitura do 1º ano: é o primeiro contato dos alunos com um livro do Monteiro Lobato e esse momento se desdobra em vários outros, quando as crianças trazem histórias dos pais e avós, ou causos populares, para explicar de onde ouviram falar do Saci, por exemplo.
Visita ao Espaço Eco em busca do Saci.
Também acontece uma experiência bastante interessante, no momento em que o livro irá começar a ser lido. Tudo começa com a visita ao Espaço Eco numa tentativa de capturar um Saci. As crianças tentam todas as estratégias populares que são ditas nas lendas, mas sem sucesso. Quando voltam para a sala de aula e encontram livros bagunçados, móveis fora do lugar e uma confusão armada, entendem tudo: o Saci passou por ali. É neste momento então, que começam a ler a história junto da professora, capítulo por capítulo.
Momento em que o Saci "passou" pela sala das crianças.
O processo de alfabetização acontece juntamente com a leitura. Por exemplo, eles são instigados a criar listas de maneiras de capturar um saci e registram as palavras como forma de exercer a habilidade de escrita e de leitura.
Parece tão mágico que, se nos dissessem que há pó de pirlimpimpim no meio de todos os livros, para gerar encantamento nas crianças, nós adultos acreditaríamos. Os desdobramentos em outras aulas são encantadores: aula de teatro musicalizada, com letras em português e inglês; especulações do que irá acontecer na história, por parte das crianças; contextualização do livro junto da professora; relação com situações vividas pelas crianças e pela experiência das férias no sítio.
Tudo isso encanta crianças, e adultos, e deixa marcas profundas na construção destes leitores, logo no começo da vida escolar. E que melhor forma de criar vínculos com a leitura, do que de forma afetiva e mágica?
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