Pouco, para alguns significa muito. Em "A grande fábrica de palavras", as poucas paralavras que Philéas consegue ter acesso significam muito, mas ainda assim não são suficientes para verebalizar o seu amor por Cybelle. Em uma trama doce, sutil e muito poderosa, o livro escrito por Agnès de Lestrade e ilustrado por Valeria Docampo consegue expressar, com poucas palavras, a falta que elas fariam caso não tivessemos livre acesso à esta forma de expressão.
Já imaginou um país onde as pessoas quase não falam? Um lugar onde, para gritar seu amor ou dizer sua verdade, é preciso comprar as palavras? Parece algo bastante impossível dentro da realidade, porém, na história de Agnès de Lestrade, este é um cenário real. Em “A Grande Fábrica de Palavras”, apenas os habitantes que possuem alto valor econômico conseguem falar normalmente, pois comprar uma palavra pode custar muito caro. Funciona assim: você compra a palavra que quiser, a engole e já está pronto para pronunciá-la. Há uma imensa variedade delas, assim como a própria linguagem.
Quem não tem dinheiro, às vezes acaba pegando palavras do lixo ou do próprio chão, mas elas são meio ruins; carregam muita sujeira. Também há como comprar algumas na promoção, o que não tem muita graça, pois são palavras que não servem muito. Sabe aquelas coisas que a gente nunca fala porque é específico demais ou fora de moda demais? Então… Promoção!
Ocorre que Philéas, um garoto apaixonado, precisa das palavras certas para se declarar para a doce Cybelle, que também quase nunca fala. O menino, que é pobre, possui apenas três opções: “cereja, poeira e cadeira”, enquanto Oscar, sua maior inimizade, possui todas as palavras que precisa e diz com todas as letras o quanto ama a garota. No entanto, é Philéas quem faz o coração de Cybelle bater mais forte e então ele decide falar com o que tem, e a resposta dela traz toda a delicadeza de quem diz mesmo que com a sutileza dos gestos.
Uma obra que nos provoca para a reflexão do verdadeiro valor da nossa fala, mas também sobre a preciosidade e potência da demonstração do afeto. Às vezes, as palavras podem custar caro demais dependendo do que se pronuncia; em outras, podem ser tão complexas, que mesmo dizendo de inúmeras formas, nunca será suficiente. Mas também é possível ser simples e tocar onde o tangível não alcança. Tudo dependerá do sentimento que colocamos nelas e ainda, das nossas atitudes para além delas.
E você? O que diria se precisasse comprar as palavras?
Veja o book trailer do livro aqui!
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