top of page
  • Maysa Rocha

Desafetos e a identidade negra, na obra de Conceição Evaristo.

“Este livro é oferecido a todas as pessoas que se enveredam pelos caminhos da paixão e que, mesmo se resfolegando em meio a muitas pedras, não se esquecem do gozo que as águas permitem”. Este é o primeiro parágrafo do livro Canção para ninar menino grande, da Conceição Evaristo. É lido pelos alunos da 1ª e 2ª séries do Ensino Médio e faz parte da lista de leitura obrigatória da Fuvest de 2026. O Ensino Médio leu ano passado Olhos D’água, um dos livros mais consagrados da autora.

Antes de começarmos a falar do livro, vale a pena lembrar que aqui no blog Uirapuru já falamos de outras escritoras obrigatórias da Fuvest de 2026, como a Nísia Floresta, Narcisa Amália e Djaimilia Pereira. Confira os outros títulos para se envolver com as narrativas e ficar antenado nos livros solicitados pelas universidades e arrasar nos vestibulares!

Canção para ninar menino grande é o quinto romance de Conceição Evaristo, publicado inicialmente em 2018 e reeditado em 2022. A obra conta a história de Fio Jasmin, pela perspectiva de mulheres que têm suas vidas marcadas pelas interferências dele - sejam elas boas ou ruins. Fio Jasmin é um homem casado, ferroviário que acaba viajando muito e nessas viagens, conhece essas mulheres com quem se relaciona e as abandona logo em seguida, causando dores, amores não resolvidos e histórias.

O livro mostra, pela perspectiva da autora, como um homem pode ter uma masculinidade com atitudes ruins, devido a sua etnia e dinâmicas sociais, como Fio sendo incentivado pelo seus colegas de trabalho a se provar através de múltiplos relacionamentos. No entanto, ele carrega um trauma que reverbera na trama e que justifica esse comportamento. Quando criança, lhe foi negado o papel de príncipe em uma peça escolar, o que influencia suas atitudes na vida adulta.

É uma leitura dura, típica da escrita de Conceição Evaristo, porém a autora transmite uma segurança sobre o que escreve. Sabemos que ela é um condutor potente para o entendimento do outro. A narrativa vai além das desventuras amorosas, mostrando uma complexidade nas relações humanas e as dores deixadas pelo comportamento irresponsável de Fio. Ao mesmo tempo, a obra mostra o poder de resiliência dessas mulheres que, apesar do sofrimento, encontram força na solidariedade e na partilha de experiências.

Biografia Conceição Evaristo  

Maria Conceição de Evaristo Brito, nasceu dia 29 de novembro de 1946, em uma comunidade na Avenida Afonso Pena, em Belo Horizonte, Minas Gerais. Sua mãe, uma lavadeira e passadeira, que sempre incentivou a filha a estudar, foi a responsável por permitir que, aos sete anos de idade, a menina fosse morar com um casal de tios. Com mais oito filhos para criar, a mãe enxergou essa oportunidade como uma forma de garantir um futuro melhor para a filha. A autora modernista estudou em escola pública e trabalhou como empregada doméstica desde os 8 anos de idade

Linha do tempo:

  • Terminou o magistério em 1971, enquanto trabalhava como empregada; 

  • Em 1987, ingressou na Faculdade de Letras da UFRJ;

  • Publicou seu primeiro poemas na série Cadernos Negros, do grupo Quilombhoje  (grupo de escritores e escritoras negras em São Paulo), em 1990;

  • Em 1992, iniciou seu mestrado em Letras pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro - o tema de sua dissertação foi a literatura negra;

  • No ano de 2003, publicou seu primeiro romance: Ponciá Venâncio;

  • Entre 2008 e 2011, cursou doutorado na Universidade Federal Fluminense;

  • Em 2012, ministrou cursos sobre a “escrevivência de mulheres negras” e “inscrições de afro-brasilidade” no Middlebury College Summer Schools, nos Estados Unidos.


Em 2018, Conceição Evaristo tentou se tornar a primeira mulher negra a ter um assento na Academia Brasileira de Letras. Apesar do expressivo apoio popular e de todos os abaixo-assinados que a população fez, os membros da ABL optaram por não eleger a escritora para ocupar a cadeira número 7, cujo patrono é o escritor abolicionista Castro Alves (1847–1871).

Conceição Evaristo foi agraciada com diversos prêmios ao longo de sua carreira:

  • Prêmio Camélia da Liberdade (2007);

  • Prêmio Ori (2007);

  • Prêmio Jabuti (2015).


As obras de Conceição Evaristo integram a literatura contemporânea brasileira e destaca-se pelas seguintes características:   

  • Protagonismo feminino

  • Realidade e valorização da cultura afro-brasileira

  • Crítica sócio-histórica

  • Caráter memorialístico

  • Prosa lírica

  • Elementos do cotidiano

  • Personagens socialmente marginalizados

  • Temática da injustiça social

  • Questões de gênero e etnia

  • Denúncia da discriminação racial

Vejamos, a seguir, algumas das frases mais conhecidas de Conceição Evaristo, retiradas de uma entrevista publicada no Correio do Povo, em 2021.

  • “O fato de eu ser escritora e ter um doutorado não me deixa imune ao racismo brasileiro”.

  • “A pobreza no Brasil tem cor”.

  • “Conheço mulheres negras cheias de sonhos e de competência que trabalham, trabalham, trabalham e ficam pelo caminho”.

112 visualizações0 comentário

Commenti


bottom of page